Old School Gamer

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segunda-feira, setembro 18, 2006

Desafios offline

Não sou claramente jogador para perder largas horas online a jogar um rpg, fps ou outro título de modo cooperativo. Tirando talvez a situação em que conheço os oponentes e há espaço para uma brincadeira entre pessoas que sempre nos dizem algo. Só que nem sempre é assim; muitas vezes podemos encontrar users desconhecidos com intenções levianas ou socorrendo-se a brejeirices para desbloquearem a frustração de avanços amargos. Mas é natural que se formem essas clivagens sem qualquer tributo pela ética, respeito e moral. O espaço virtual rege-se em inúmeras ocasiões pela falta de cumprimento das regras.
A outra via é jogar presencialmente com amigos ou desconhecidos presentes em regime de pacto prévio. Escolhe-se o jogo, destinam-se os adversários, as séries de jogo e ...apostas, algo que para mim foi particularmente interessante de assistir.
Nelas ficam embutidos o orgulho e satisfação pela vitória acrescidos de um sempre apetecível quantitativo monetário com efeito bola de neve dada a compensação que se pretende obter para uma nova partida em virtude da escorregadela prévia.
Isto vem a propósito de ter ido hoje a um café ver o Porto com alguns amigos. Lá ficamos a ver a bola, mais um autogolo, até que tinha de vir em jeito de picanço um desafio de PES nuns andares acima, na casa de um outro amigo nosso. PES é um dos jogos colectivos por excelência. Erguem-se as bancadas de assistência para mais um embate de titãs conhecedores do seu onze predilecto, intocável e tecnicamente espremido. Ficam as intenções de 5 euros a vitória. Dinheiro vivo em cima da consola que o momento é sério e solene. O pacto prévio e presencial exige honra na palavra como um duelo nobre. Mas alguém sai vencedor e outro sai vencido. Na esperança precipitada de recuperar o equilibrio financeiro, o derrotado propõe novo embate e sobe a parada para quinze euros a vitória, tornando o confronto mais empolgante e apetecível para os assistentes. Porém, o fracasso repete-se com resultado frenético nos 3-2, obtido no prolongamento. Feita a transferência busca-se o eterno retorno num acto de loucura, mesmo sendo patente a melhor qualidade de jogo do vencedor. 25 euros é a aposta final. Nessa partida, nem tudo corre mal de início. Um golo marcado cedo permite idealizar um retratamento do adversário, patentear a capacidade técnica para a veia futebolística virtual e receber o dinheiro já perdido. Mas em poucos minutos a situação inverte-se com resultado de 2-1, voltando o drama da derrota. Em pouco mais de 40 minutos alguém faz numa noite de desafio e loucura 45 euros, quase dez contos na moeda antiga. Um autentico proveito semanal. Como testemunha do desafio acompanhei os dois a uma caixa multibanco na rua, onde o vencido levanta os 25 euros correspondentes à última parada perdida. Numa troca de palavras ainda se reclama por um novo desafio, mais comedido e realista, com acesso a 10 euros a vitória. Peço ao derrotado para ponderar bem as consequências dessa vontade, seguramente traduzível em nova humilhação. Decidem então findar o embate e regressar a suas casas.
Aquilo que fica determinado para além de alguém ter ficado com menos 45 euros em pouco mais de 3 quartos de hora, é o cumprimento pelas regras, pelo gentleman agreement, pela concretização do que fora proposto pelos adversários em contenda. É assim noutras partidas de cartas, sueca ou dominó que se vêm aí pelos bancos dos jardins das cidades em que são transportadas fichas traduzíveis em dinheiro.
Fora do mundo virtual há espaços periclitantes, desafios que obrigam ao respeito e cumprimento da palavra. Tudo aquilo a que assisti poderia ter ficado sem efeito se ambos os contendores tivessem chegado a acordo em desistir das paradas, mas pelo que me fui apercebendo depois de dada a palavra não há como recuar nem é de bom tom ficar devedor de alguém. No mundo virtual ganham-se pontos e sobe-se no ranking de classificações internas com percentagens concluídas em múltiplos jogos. No mundo real, a presença espaço-temporal dos jogadores produz inúmeros efeitos no alcançe de um desafio cara-a-cara. As consequências podem assim ser das mais díspares e agrestes que uma simples e comum insatisfação temporária muito certamente pelo respeito e honra como regra de coexistência pacífica. A que custo for, como opção evidentemente.